- Sabes o que te digo? - prossegue ela. - Quer-me parecer que as recordações são o combustÃvel que permite à s pessoas continuarem vivas. Agora, se essas recordações têm ou não de facto alguma importância concreta, isso pouco ou nenhum significado tem desde que as funções vitais estejam asseguradas. É apenas combustÃvel, mais nada. Anúncios nos jornais, livros de filosofia, revistas cheias de pornografia, um grosso maço de notas de dez mil ienes: quando deitas um fósforo e lhes chegas fogo, não passa tudo de papel. O fogo, enquanto arde, não pensa: "Oh, isto é Kant!" Ou: "oh, um artigo na edição da tarde do jornal Yomiuri", ou ainda: "Ena, mas que belas mamas!" Para o fogo, são apenas pedaços de papel.
Aqui neste caso é a mesmÃssima coisa. As recordações importantes ou aquelas que não têm tanto peso quanto isso, umas e outras tornam-se, sem distinção, combustÃvel.
- Haruki Murakami, After Dark
excertos
É muito estranho querer estar só com uma pessoa da raça humana.
quinta-feira, novembro 07, 2013
«O amor é um exagero. Aquela coisa “Como é que é possÃvel, ela gostar dele que é tão horrÃvel?” É uma coisa mágica. Duas pessoas que se encontram e formam uma unidade. Quando se vive assim, tudo é traição: “Ah, estás mais interessado em ler o jornal do que em falares comigo?!” No amor tudo pode ser traição. O amor é uma parada muito alta. Qualquer coisa pequena é uma coisa dramática. O amor é um exagero por isso. É tudo vivido à lupa. Há muita gente que acha de mau gosto. De mau gosto é uma pessoa fingir.»
- Miguel Esteves Cardoso
Se alguém me fizesse um daqueles questionários , entrevistas ou coisa do género (como se eu fosse uma qualquer famosa por possuir um pseudo-blog quase fantasma), e me perguntassem qual a relação mais perigosa e questionável que já experimentei (porque é que alguém me haveria de perguntar isso eu já não sei...) eu teria que responder, sem qualquer hesitação, a que tive, e provavelmente voltarei a ter, com a tesoura. Eu e a tesoura temos uma relação muito Ãntima e muito antiga. Daquelas de amor ódio que, por mais que os anos passem, voltam a acontecer fortuitamente uma vez ou outra quando algo cá dentro despoleta - em mim, não na tesoura. Dizem que o amor é unidireccional e neste caso deve ser mesmo, já que da outra parte nunca vi correspondência. E o ódio também.
Poderia ser o x-acto, que tem um nome mais forte, mais masculino e certamente exerce uma presença muito mais forte no meu quotidiano de aspirante a arquitecta, mas não. A tesoura ganha. É daquelas paixões que não se entendem nem são de se entender por mais ninguém. Depois de ter ultrapassado o meu caso efémero de junho de 2012, quando eu e a tesoura fizemos o maior estrago possÃvel no meu cabelo já de si mal cortado (logo antes de ter de ser filmada para um vÃdeo para a faculdade, que inteligente!), eu jurei pôr um fim a tudo isto e seguir em frente, com o cabelo crescendo pouco a pouco até atingir o comprimento razoável que existia até, bem, há uns dias atrás.
As coisas andavam bem, andavam calminhas. Mas e depois? Depois vem sempre o amanhã a perseguir-me, a sussurrar-me ao ouvido promessas de uma vida mais louca, mais significativa, mais excitante. Eu e o espelho continuávamos numa relação monótona, já quase não me apetecia olhá-lo. Até que a tesoura - que parece surgir sempre que o existencialismo é por mim questionado - voltou a fazer parte da equação e, num momento tão rápido que não dei por isso, já eu estava transformada numa nova pessoa arrependida que não possuÃa uma vida mais louca, nem mais significativa nem sequer mais excitante. A vida pode ser mesmo lixada, mas cá estamos nós para enfrentá-la sempre que caÃmos e nos esfolamos todos e ficamos cheios de negras e feridas irreparáveis. Neste caso não foi assim tão grave: o cabelo cresce e, só por isso, não tenho muita pena da mudança, embora sinta que me espera um ano sofrido de horas a fio em frente ao espelho, num silêncio cortante porque o perdão é uma coisa que leva o seu tempo. As saudades do cabelo comprido são inevitáveis mas agora não há nada a fazer a não ser a espera infinita e a promessa de que isto não volta, mesmo, a acontecer.
Tenho andado a tentar encontrar qualquer coisa assim nos confins do armário da minha mãe - como se eu suspeitasse, de forma sobrenatural, que ela teria usado algo tão sexy quanto estes vestidos na mesma altura em que usava bikinis triangulares tão minúsculos que eu não saberia como vestir. Mas - ao contrário do que eu previra - a minha mãe não tem nada parecido com isto a não ser, talvez, na gaveta de lingerie - o que não serviria, certamente, a função. Quando vi esta campanha da Zara pensei imediatamente que queria tudo isto - fenómeno, diga-se, também ele pouco inédito. Porque sou mulher o suficiente para colocar uma destas peças no corpo e, com um qualquer jeito masculino, fazê-la parecer menos - como dizer? - sexy, tal e qual estas meninas da campanha. Ou seja, num resumo rápido, a fórmula perfeita passaria por misturar estes vestidos com um grande casaco XXL preto, ou então, num verão mais assumido, com um colete comprido, ou uns botins menos altos, um chapéu mais boyish, não sei... O que sei é que eu saberia exactamente o que fazer se tivesse um destes na mão e, pensando melhor, não preciso deles todos. Bastava-me um para ser mais feliz.
1. Skylight
2. Smoothies + Sex and the City
3. Isabel Marant + H&M
4. Triangl Bikini
5. Céline shoes
6. Chanel Resort 2014
7. Marble floor
8. Blue + Flowers
9. Bared Back
I know I've been gone for a while, but, you know what they say... «I'm up all night to ger lucky»! And I mean it.
Talk to you soon *
Alguma vez quiseram algo tão escandalosamente muito que, quando encontraram o que queriam, depois de ardentes perÃodos de ansiedade e tristeza, os vossos corações deixaram de sentir o aperto, quase se acomodaram à felicidade utópica que trespassa o corpo por alguns tempos, e o sorriso estúpido da cara insistiu em não desaparecer?
Claro que sim. Provavelmente com um rapazote qualquer da escola, com um brinquedo qualquer em criança, com a notÃcia de que entrámos na faculdade x ou, simplesmente, com uns sapatos novos. (Alguma coincidência?)
E depois? Que fazer ao vazio que não ficou preenchido? Porque é que não nos sentimos estupidamente felizes... sei lá... para sempre? Porque é que esta coisa que nos parecia inicialmente tão obviamente fácil de atingir e que nos parecia tão claramente a melhor forma de nos realizarmos naquele momento, se torna, tão rapidamente, numa coisa... banal? Numa coisa, numa pessoa ou num acontecimento... dispensável?
Não sei responder, é de ser humana. E mimada, provavelmente.
Mas tenho a certeza que há excepções. Este almost leather jacket que a minha amiga Gabriela queria há imenso tempo e finalmente encontrou numa versão quase perfeita (o casaco é lindo! e é da mango!) vai fazê-la ter um sorriso estúpido na cara durante muito tempo, porque não vejo como alguém se pode cansar dele. Tem uns ombros almofadados, assenta como uma luva e desperta a inveja alheia... Poderia ser melhor?
É isso, e sapatos novos.
Sempre incansáveis.
Se alguma vez disse o contrário estava a mentir...
Depois de ler um post da Garance Doré sobre beleza, não resisti a tecer alguns comentários também. Se há aqueles dias em que nos sentimos m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a-s, qual deusa grega qual modelo da Vogue, há também (e muito mais frequentemente!) aqueles dias em que, depois de uma mirada num espelho de um carro ou numa poça de chuva a imagem que temos da nossa imagem nos parece um pouco mais real, e, por isso mesmo, mais cruel, mais enfadonha e mais aborrecida do que aquilo que gostarÃamos de transparecer mas também, muito provavelmente, não tão hedionda quanto aquilo que realmente fazemos passar...
É engraçado como acontece com todos. Digo, todas, pelo menos no que toca ao geral feminino que me é conhecido. E, no meu caso, a bipolaridade está quase sempre ligada a alterações hormonais gigantes que se fazem sentir de uma forma ridiculamente marcante. (Can you blame me?) Mas é engraçado constatar - eu já o fiz e por isso é que o escrevo - que a beleza é, sem querer repetir-me com teorias banais, uma questão simples de auto-convencimento sobre a beleza própria. E claro, consequentemente, sobre como esse convencimento intrÃnseco se reflecte nos outros.
Se há actrizes e actores que considero soberbos, apesar de todos os defeitos fÃsicos que possam ter, deve-se (maioritariamente, não vou ser hipócrita...) ao facto de me ter apaixonado pelas suas personagens, e não completamente pela sua aparência... Muito culpa, confesso, da minha rendição por vozes marcantes, mas principalmente pelo que essas vozes reproduzem e pela personalidade que as suas ideias sugerem.
Uma mulher bonita e confiante é quase sempre mais bela do que uma mulher lindÃssima que não sabe que o é.
Excepções existem, obviamente. Até porque eu própria conheço mulheres lindÃssimas cuja confiança me abisma! Será que elas sabem que se soubessem o quão bonitas realmente são, tornar-se-iam ainda mais belas?
Ok, para quem andava doida por encontrar umas coisinhas parecidas à s sandálias Isabel Marant da colecção passada (?!), a Mango decidiu satisfazer-vos. Não acho que vão ser grande procura, confesso, até porque o próprio preço em cheap version (60€) não é lá muito convidativo; mas agrada-me esta ideia de adorar coisas que não são tão mainstream quanto isso. Agrada-me que jeffrey campbells me façam comichão nos olhos, que sapatos extremamente compensados e estranhamente redondos me dêem agora vontade de olhar para o lado e que outras coisas que nasçam por aà como flores me façam doer qualquer coisa cá dentro. Porque acho que tenho uma qualquer visão para estas coisas. Que a minha intuição alimentada pela análise despropositada de street style e high fashion me tornem numa pessoa que vê um pouco mais à frente. Que as coisas que me despertam um interesse repentino hoje, serão (e têm sido) aquelas que estarão por todo o lado amanhã. E que nessa altura já me enjoaram um bocadinho, talvez pela sua interpretação muito pouco conseguida pelas pessoas e pelas lojas. Ou talvez porque os meus olhos estão já em cima de outras novidades fantástico-fabulosas. Ou então sou só que tenho tanto a mania que percebo de moda, que me atrevi a criar um blog para escrever previsões e coisas que tais sobre- imagine-se! - sapatos.
São parecidos, mas não têm nada a ver...
De qualquer forma, para quem andava à procura de uns brincos mais ou menos assim (é claro que a ilusão de encontrar uns mesmo muito parecidos aos originais é coisa que já não existe), até que estes servem... Se bem me conheço, daqui a uns tempos já não vou poder olhar mais para eles, mas por enquanto não vão sair das minhas orelhas... (e são H&M!)