Sometimes I think sometimes I don't

segunda-feira, agosto 19, 2013

Se alguém me fizesse um daqueles questionários , entrevistas ou coisa do género (como se eu fosse uma qualquer famosa por possuir um pseudo-blog quase fantasma), e me perguntassem qual a relação mais perigosa e questionável que já experimentei (porque é que alguém me haveria de perguntar isso eu já não sei...) eu teria que responder, sem qualquer hesitação, a que tive, e provavelmente voltarei a ter, com a tesoura. Eu e a tesoura temos uma relação muito íntima e muito antiga. Daquelas de amor ódio que, por mais que os anos passem, voltam a acontecer fortuitamente uma vez ou outra quando algo cá dentro despoleta - em mim, não na tesoura. Dizem que o amor é unidireccional e neste caso deve ser mesmo, já que da outra parte nunca vi correspondência. E o ódio também. 

Poderia ser o x-acto, que tem um nome mais forte, mais masculino e certamente exerce uma presença muito mais forte no meu quotidiano de aspirante a arquitecta, mas não. A tesoura ganha. É daquelas paixões que não se entendem nem são de se entender por mais ninguém. Depois de ter ultrapassado o meu caso efémero de junho de 2012, quando eu e a tesoura fizemos o maior estrago possível no meu cabelo já de si mal cortado (logo antes de ter de ser filmada para um vídeo para a faculdade, que inteligente!), eu jurei pôr um fim a tudo isto e seguir em frente, com o cabelo crescendo pouco a pouco até atingir o comprimento razoável que existia até, bem, há uns dias atrás. 

As coisas andavam bem, andavam calminhas. Mas e depois? Depois vem sempre o amanhã a perseguir-me, a sussurrar-me ao ouvido promessas de uma vida mais louca, mais significativa, mais excitante. Eu e o espelho continuávamos numa relação monótona, já quase não me apetecia olhá-lo. Até que a tesoura - que parece surgir sempre que o existencialismo é por mim questionado - voltou a fazer parte da equação e, num momento tão rápido que não dei por isso, já eu estava transformada numa nova pessoa arrependida que não possuía uma vida mais louca, nem mais significativa nem sequer mais excitante. A vida pode ser mesmo lixada, mas cá estamos nós para enfrentá-la sempre que caímos e nos esfolamos todos e ficamos cheios de negras e feridas irreparáveis. Neste caso não foi assim tão grave: o cabelo cresce e, só por isso, não tenho muita pena da mudança, embora sinta que me espera um ano sofrido de horas a fio em frente ao espelho, num silêncio cortante porque o perdão é uma coisa que leva o seu tempo. As saudades do cabelo comprido são inevitáveis mas agora não há nada a fazer a não ser a espera infinita e a promessa de que isto não volta, mesmo, a acontecer.


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3 comentários

  1. Escreves tão bem, a sério! Também sofro de grandes problemas de relacionamento com a tesoura, e acho que são eternos!

    <3
    http://zazzish.blogspot.pt/

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  2. Eu já tive o cabelo curto, durante quase 6 anos e adorei :) mas agora olho para trás e não me imagino a cortá-lo tão cedo assim, ainda que não esteja muito comprido! Por agora ando a evitar (fugir!!) a tesoura, eheh.



    xx,
    thefashiondreamcatcher.blogspot.pt

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  3. Eu sou o oposto, fujo da tesoura, só corto as pontinhas a medo...muito medo! :p

    Mas gostava de ver como estás, aposto que estás o máximo, tens carinha para um cabelo curto! ;)


    beijinhos, Nádia
    My Fashion Insider

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